Economia e sociedade na era do ouro

A região das minas funcionou como um grande ímã na colônia, atraindo gente pela possibilidade de enriquecimento fácil e rápido. Essa atração exercida pelo ouro fez com que, ao longo do século XVII, ocorresse uma intensa circulação de mercadorias, pessoas e animais da colônia.

A maior parte da população concentrada na região das minas tinha única preocupação de achar ouro e enriquecer. As atividades agrícolas foram esquecidas e relegadas a segundo plano. O es resultado foi que gêneros alimentícios e vestimentas tiveram uma alta de preços nunca vista antes, como por exemplo um boi - 100 oitavas de ouro (aproximadamente 360 gramas)

Isso significava que um produto custava, na região das minas, aproximadamente cinquenta vezes mais do que se pagava na área litorânea.

Imagem relacionada - Mapa - Àreas de mineração no século XVIII

Com a região das minas consumindo uma grande quantidade de produtos que não produzia e devido ao alto poder aquisitivo gerado pelo ouro e os diamantes, as atividades comerciais internas da colônia, antes insignificantes, tiveram um grande desenvolvimento. Mesmo assim os surtos de fome, provocados pela precariedade do abastecimento, foram constantes, ao lado de um senário marcado por muitas pessoas pobres.

A mudança do perfil da economia com a atividade mineradora se materializou no aparecimento de centros produtores de alimentos em torno da região das minas. A partir de então, surgiu uma verdadeira malha de caminhos que ligavam as diferentes regiões da colônia com o centro produtor de ouro.

Os caminhos e o comercio da colônia


No inicio da mineração, existiam somente dois caminhos para chegar á região aurífera: o Caminho Geral e o Caminho do São Francisco. O primeiro ligava a capitania de São Paulo, passando por Parati, até a região das minas. O de São Francisco era o caminho "natural" entre o atual Nordeste e as minas.


Como o Rio de Janeiro contava com uma boa área portuária e havia necessidade de melhorar o acesso da região das minas, o governo da colônia resolveu abrir o Caminho Novo das Gerais, pelo qual, era possível fazer a viagem entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais em 10 ou 12 dias.


Esse novo caminho com suas ramificações, facilitava o trabalho de fiscalização da Real Fazenda, que instalou barreiras e registros onde a passagem era obrigatória.







Nas proximidades de cada barreira ou registro, iam surgindo aglomerados de casas que, de povoações, se transformavam em vilas e depois em cidades. As cidades de Mogi Mirim, Mogi Guaçu e Ouro Fino são alguns dos exemplos de formações urbanas em torno dos registros da Real Fazenda.



Nos vários caminhos que ligavam as diferentes partes da colônia a Minas Gerais, também se formavam vilas e povoamentos junto dos pousos, pontos de abastecimento e descanso dos viajantes. Aos poucos a colônia tomava uma nova feição, principalmente graças a circulação de uma personagem nova na economia e na sociedade coloniais: o tropeiro, condutor das tropas de mulas.


Do atual Nordeste iam para a região das Gerais escravos e mercadorias como tabaco e aguardente. Além dos caminhos principais, existiam os secundários , por onde muito ouro era contrabandeado.
As tropas e a pecuária do Sul

Inicialmente o transporte era feito por índios ou por escravos de origem africana. Por volta de 1730 começaram a aparecer as tropas de muares (burros ou mulas), que se transformaram no mais, importante meio de transporte da colônia.
Criados no Rio Grande do Sul, esses animais percorriam um longo caminho, aberto pelos primeiros tropeiros, chegando até a grande feira de mulas em Sorocaba.
Sorocaba transformou-se rapidamente no maior centro de comércio de mulas da região das Gerais. Negociavam-se cerca de 30 mil animais todos os anos. A cidade era movimentada, com pequenos hotéis, hospedarias, bares e pensões para atender os negociantes.


O Rio Grande do Sul


O Rio Grande do Sul tornou-se o principal fornecedor de muares, equinos e bovinos para boa parte da colônia. Depois que os bandeirantes destruíram as missões jesuíticas do Sul, o gado vagava solto e sem dono pelas pradarias. Por isso, a região passou a ser alvo de interesse dos paulistas e reinóis que pretendiam viver da pecuária.

Os pastos da região não eram exatamente propriedades de um dono. Por isso ela oferecia condições para surgirem trabalhadores livres ligados à atividade pecuária. Os colonos que chegavam, reinóis ou paulistas, apossavam-se das terras e do gado. Utilizavam a mão de obra de trabalhadores livres, geralmente mestiços.
No Rio Grande do Sul surgiram outras atividades econômicas ligadas à pecuária. Foi o caso da extração do couro e da produção de charque.
As charqueadas, instalações de secagem de carne para conservá-la, expandiram-se pelo Rio Grande do Sul. As estâncias gaúchas cresciam cada vez mais com a nova atividade econômica, integrando a região ao restante da colônia.

A nova sociedade da era do ouro

Dois fenômenos importantes acompanharam a economia da mineração: de um lado, um crescimento populacional bastante acentuado; de outro, a ocupação do Centro- Sul. A população das Gerais, concentrada em núcleos urbanos, podia contar com alguns serviços incentivados pela circulação de moeda. Os núcleos urbanos tendiam a crescer. Vila Rica de Ouro Preto, por exemplo, teve uma população que oscilou entre 30 e 100 mil habitantes, conforme a época. Nesses núcleos surgiram várias atividades profissionais: o trabalho de artesãos, de pequenos comerciantes, lojas, armazéns hospedarias e também a prostituição. O ouro podia comprar tudo.

Esse comercio subsidiário á economia mineradora aumentava as possibilidades de atividades econômicas. A sociedade colonial estratificada, que praticamente não permitia a ascensão social, trazia agora, com a mineração, uma ilusão de mudanças, que na prática se  mostrava quase impossível.

As transformações sociais

As novas atividades econômicas geraram novas camadas na sociedade, as quais nem sempre estavam ligadas às antigas estruturas sociais da colônia. Surgia, assim, aquilo que muitos chamaram de embrião de uma classe intermediaria.


Contudo, mesmo com o aparecimento desses novos setores na sociedade, o Brasil continuava um pais escravista e com sociedade estratificada. O aumento do trabalho livre não chegava nem de longe a ameaçar a ordem escravocrata. Por volta de 1780, avia em Minas Gerais cerca de quatro escravos em relação a cada pessoa livre. Uma população de cerca de 300 mil pessoas, por volta de 250 mil  eram escravos.

Por essa razão, não podemos afirmar que as transformações foram profundas aponto de modificar a estrutura social da colônia.

A sociedade surgida em torno da mineração parecia dar a sensação de alguma mobilidade social. As chances, porém, eram remotas. As pessoas escravizadas, por exemplo, apesar de acumular algum rendimento com o ouro, morria bem antes de conquistar a alforria, devido ao desgastante provocado pelo duro trabalho.

Muitas pessoas escravizadas chegaram mesmo a ganhar alforria, em muitos casos, porém, pelo fato de o senhor não ter mais como sustentar o cativo. Em resumo, apesar da riqueza do ouro, a miséria foi para muitos a marca daquela sociedade.

A vida mais dinâmica na área mineradora, entretanto, favoreceu uma maior produção intelectual





A administração portuguesa: contradições e crises

Em 1706 Dom João V subiu ao trono português e seu reinado foi até 1750 coincidindo com o auge da economia mineradora. Tanto a realidade de Portugal era que eles dependiam da economia inglesa quase todos os produtos manufaturados Vinham da Inglaterra e para pegar o ser utilizado o ouro que saía das minas brasileiras assim o reinado de Dom João passou por problemas políticos por conta da Adesão de Portugal a aliança contra a França na guerra da sucessão espanhola.



A cultura no Brasil colonial

Nos primeiros tempos do Brasil a cultura estava intimamente ligada a Metrópole. A cultura sofreu transformações no período da mineração quando a economia e a sociedade se tornaram mais dinâmicas ampliando a influência religiosa.

A literatura dos primeiros momentos

A crônica informativa é considerada a primeira forma literária que faz referência ao Brasil. Nessa fase, os cronistas europeus descreviam as maravilhas naturais das terras tropicais, ressaltando, principalmente, as possibilidades de exploração econômica da nova terra.

A primeira crônica foi a própria carta de Pero Vaz de Caminha, endereçada ao rei D. Manuel, o venturoso. Outros textos foram escritos ao longo dos séculos XVI e XVII. Os mais famosos foram o de Hans Staden, o de frei Vicente de Salvador e o de Pero Magalhães Gandavo. Cada um deles, ao seu modo e estilo, preocupou- se em registrar os hábitos e o modo de vida dos povos indígenas, mas sempre sugerindo a superioridade do homem branco e as vantagens e valores da chamadas civilização europeia. O objetivo desse tipo de literatura hoje nos parece simples: a informação sobre a nova terra. Entre tanto, além de informar, essa produção ajudou a justificar a dominação do homem branco sobre os povos indígenas.

Seguindo as tendências literárias europeias, o Brasil também teve seu período barroco, com a Obra de Gregório de Mattos Guerra ( 1663-1696), que criticava a sociedade colonial e a cultura jesuítica e, por isso, pode ser considerado um dos primeiros rebeldes na literatura brasileira.

Outro grande representante da literatura barroca no Brasil foi o padre Antônio Vieira (1608-1697). Seus famosos sermões, em estilo vigoroso, defendiam os índios contra a escravização pelos colonos.

A característica básica da arte literária nesse período foi a inexistência de um publico leitor. Numa sociedade escravista, dificilmente poderia haver publico para a produção literária. Mesmo os poucos senhores de engenhos que  sabiam ler não se interessavam por literatura.

O ouro e a cultura





A produção cultural no Brasil no século XVIII foi bastante marcada pela sociedade da mineração. Minas Gerais, região urbanizada, era o centro dessa  produção com musicas, textos literários e muitas pinturas em igrejas.


A cultura de Minas Gerais estava obviamente exposta à influencia portuguesa, mas sofria também a influencia do Iluminismo Frances.


Em outras regiões da colônia, como Bahia e Rio de Janeiro, a produção cultural também foi intensa. Nesses lugares ocorreu, por exemplo, a fundação das academias de letras e ciências, com muitas pessoas passando a refletir sobre a natureza e a sociedade local.


Os livros eram contrabandeados ou, muitas vezes, vinham com a capa de outros livros para burlar o controle do governo e a inquisição. Existia grandes bibliotecas particulares. Foi o caso, por exemplo, de Luís Vieira da Silva, um dos participantes da inconfidência mineira, que possuía mais de 800 volumes, com  grande parte das obras de autores iluministas.


Os literatos da época da mineração reagiram, através do estilo chamado arcadismo, contra o estilo rebuscado e artificial do barroco. O arcadismo se inspirava na natureza, na simplicidade e no racionalismo, ao mesmo tempo que enaltecia os sentimentos amorosos. Tomaz Antônio Gonzaga, na região das minas, foi um dos mais famosos árcades. Enalteceu sua paixão por Marília em versos, mas também fez criticas politicas ao despotismo do governador português.


Cláudio Manuel da Costa foi, sem dúvida, o maior dos poetas do arcadismo. Por seu envolvimento na Inconfidência Mineira, morreu na prisão.










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